Curiosos

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

.a fuga.

.achei o diário dela. Várias páginas contando suas aventuras na escola. Suas aventuras depois do almoço. O treino de futebol no final da tarde e a explicação sem sentido que ela deu à mãe por chegar tarde em casa.
Li a parte que ela dizia ter ido ao médico, ao dentista e sobre quando ela levou a cachorrinha ao veterinário pela primeira vez. A danada se soltou da guia, correu pela rua e roubou um pedaço de bife de cima do balcão do açougue. A consulta foi 50 reais, mais 30 e poucos reais da carne mordida e estraçalhada, e engolida pela filhote.
Fiquei imaginando como ela deve ter esticado os lábios numa meia lua quase de orelha à orelha e sorrido. A briga doce com a filhote como quem diz: vai até o açougue sempre que conseguir escapar de mim.
A verdade é que nas páginas recentes há palavras falando de alguém. Falando do abraço e com um pouco de saudade. Falando das noites que amanheceu acordada falando ao telefone. Do jeito engraçado de implicar com tudo. Da música que escreveu. Do sonho que teve.
Parecia que falava de mim.


Eu quis que fosse de mim.







Mas eu não sei de quem é.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

.tentando escrever algo que não tenha você nas entre-linhas.

.porque não estou sendo capaz de ser indiferente à saudade que está sobre a minha pele, meus órgãos, meus ossos. Essa saudade que grita toda vez que fico em silêncio. Porque quando fecho os olhos ainda vejo você, ofegante depois de gozar e me abraçando enquanto te faço meu travesseiro.. e vejo as tuas cores na penumbra silenciosa e dançante dentro do meu quarto, vejo suas cores quando a luz que vem da rua passa através da cortina e clareia as paredes, seu contorno tão quente e suado, seus peitos pulsando a cada sístole e diástole do coração, seus pêlos brilhando suados, a respiração arrepiando até meus ossos enquanto meu umbigo repousa sobre o seu umbigo e seus braços, se arrastando sobre minhas costelas e me apertando, tornam-se cipós ao redor do meu corpo. Me amarram tão perto que nossos corpos se fundem. Me enterro dentro dos seus olhos e por alguns instantes intermináveis não sei diferenciar o que faz parte de mim do que faz parte de você. E então eu descubro que tornar-se um só é mesmo possível. E descubro linha por linha o que está desenhado em sua alma. E nessa intensidade mais uma vez nos extasiamos, e tudo se repete e a cada vez que nos tornamos uma, inevitavelmente nessa fusão acabam ficando presos em você, pequenos pedaços de mim, e em mim vão ficando os seus cacos




































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